vou colocar o barro na roda e moldaremos palavras para um poema. esculpiremos versos cor de terra que a ela voltarão com o passar dos anos e as nossas mãos ficarão tão sujas de prazer como o nosso coração aberto de alívio. essa poesia cozerá no forno onde faço o pão de mel que comemos e com os filhos partilhamos. de mãos dadas, com o girar da roda, sairá um dos mais belos poema de amor que a quatro mãos faremos. texto:luísa azevedo
pedes-me a pele numa disputa entre sim e não a carne, num jogo que não quero travar esfrego-me na humidade quente da terra despojo-me de todos os nadas e todos os tudos fica nua, vestida de mim! é esse eu que procura o aconchego do verde que pinta no corpo desenhos indígenas com terracota é esse eu que se desdobra entre o mar e a serra entre o rio e o campo entre a noite e anoitecer é esse eu que divaga na loucura de uma paixão perdida e virou amor ardente que lê nos olhos alheios fantasias para as reinventar nos seus um eu que se movimenta em ondas aparentemente doces aparentemente calmas um eu que chora e ri ao mesmo tempo que muda com e como o tempo é esse eu que vive num fogo nunca circunscrito onde a brasa reacende de dentro um eu terra, que sonha com a lua pedes-me a pele numa disputa entre sim e não a carne, num jogo que não quero travars e pinto no corpo pinturas de guerra é só com o meu eu que quero guerrear. texto:luísa azevedo
de mim sairás pão alimento de tantos e tão poucos cheiroso e fumegante ao puxar da pá antes de ti massa crua antes dela caruma em chamas, galhos em labaredas e os olhos mortiços de uma vida de labor. antes de ti farinha, água com pitada de sal, fermento, para que levede, cresça e muitas bocas (porque não todas) alimente! texto:luísa azevedo http://pin-gente.blogspot.com/
não sou poeta, é-o aquele que vive em mim. não sei a verdade das coisas, ela reside na essência delas próprias. não sou alma, sou o corpo que a encerra. não sou consciência, mas o seu invólucro limite. não sou eu que choro, a lágrima é do sentimento que transborda. não chego ao tecto, mas consigo tocar o céu. texto: francisco ré
A arte é um limão suspenso, aconchegado pelo tocar do vento, morto de cansaço pairando sobre uma superfície de cristal. A arte é como o vinho que entontece. É como a agulha que pica. Como um colchão que relaxa. Como a chiclete que cola. Como a imaginação que estica... texto:francisco ré
O chão que piso guarda segredos A cada passo levanta-se o pó das memórias Camada transparente animada pelo toque Murmúrios tácteis Pés descalços Textura dos dias Partículas de contos No chão que piso está marcado o passado Acumula-se o pó Cobre as pegadas Vou a passo De memória em memória E quando um dia eu parar Vou também cobrir o chão Transformar-me em passado E esperar que alguém no meu futuro de hoje Caminhe sobre o pó da minha história. texto:francisco ré http://my-walkie-talkie.blogspot.com/